No Japão dizem que a prova definitiva de que algo ou alguém é popular no mundo inteiro é quando a coisa ou a pessoa ganha uma versão em mangá. Estadistas, benfeitores da humanidade, celebridades do esporte já foram objeto de mangás. Por exemplo, Ayrton Senna teve a vida contada em quadrinhos no Japão em duas séries nos anos de 1990 e 1991 na revista “Shõnen JUMP”, no auge de sua carreira.
A mais recente iniciativa quadrinhística do gênero ocorreu com a série inglesa “Sherlock” da TV BBC. Com roteiro de Mark Gatiss (da série “Doctor Who”) e Steven Moffat (“Doctor Who” e “As Aventuras de Tintim”, em conjunto com Steven Spielberg), a série atualiza os personagens de Arthur Conan Doyle, originalmente criados na Era Vitoriana, para a Inglaterra do século 21. Agora Sherlock Holmes é um detetive “sociopata altamente produtivo”, hiperativo viciado em fumo com sérios problemas de adaptação social, mas que canaliza seus distúrbios para a solução de casos para fugir da sensação de tédio que o leva à beira do suicídio. Já o Dr. John Watson é um médico do exército britânico que após anos de serviço no Afeganistão acaba de voltar à Inglaterra e à vida civil. Traumatizado pela guerra, o doutor faz terapia e na procura de um emprego acaba conhecendo Sherlock. Reconhecendo a habilidade do doutor com a medicina, armas e um certo vício em adrenalina de ação, Sherlock propõe a Watson a clássica parceria para resolver casos que envolvem espionagem e tecnologia da informação.
Sherlock é interpretado por Benedict Cumberbatch (Khan em “Star Trek Além da Escuridão”) e o Dr. Watson é feito por Martin Freeman (Bilbo Baggins da trilogia “O Hobbit”). A série, que começou em 2010 na Inglaterra, teve de início uma resposta modesta do público. Mas com esmerada edição e roteiros inteligentes, nos anos seguintes “Sherlock” cativou o público jovem, virou uma febre na Internet e a BBC decidiu produzir novos episódios. A 3a. temporada, exibida nas duas primeiras semanas de janeiro de 2014, consagrou o fenômeno. “Sherlock” tornou-se a série de maior audiência da BBC em dez anos (12 milhões de espectadores de acordo com Broadcasters’ Audience Research Board), e um grande sucesso comercial ao ser vendida para mais de 200 países e gerar produtos licenciados diversos, além dos DVDs e Blue-rays. E a venda dos livros de Conan Doyle também cresceram pelo mundo afora após a estréia da “Sherlock”.
Demonstrando faro para o sucesso, em 2012 a editora japonesa Kadokawa Shoten negociou com os autores de “Sherlock” os direitos para produzir uma versão em mangá da série da BBC. Aliás, esse foi o primeiro licenciamento internacional de produtos da série. O resultado foi “Sherlock: Pinku Iro no Kenkyuu”, mangá desenhado por JAY e que vem sendo publicado em capítulos na revista “Young ACE”. Elementar, né?
Matéria publicada em www.culturajaponesa.com.br por: Cristiane A. Sato, autora do livro JAPOP – O Poder da Cultura Pop Japonesa